quarta-feira, 25 de julho de 2012

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"Esta é sua vida e ela está acabando a cada minuto."¹ Eu não queria começar dessa maneira, mas como esse texto vai tomar um semblante bem mais assustador e como nenhuma das palavras acima conjugadas juntas e nesta ordem cria uma mentira, que assim seja.
Talvez esse seja o feitiço mais cruel da vida (da vida como ela mesma, substantivo, e da vida como uma mera generalização): cada dia a mais é um a menos. Quanto mais você prova, menos você pode experimentar. Quanto mais você planeja, menos tempo tem de realizar. É um ciclo vicioso, porém finito.
E são tantas as banalidades que o cotidiano prega como prioridades que ocupam nossas mãos, gastam nossas energias, cansam nossas mentes e fragilizam nossas almas. É tanta conta pra pagar, é tanta ficha pra preencher, é tanto horário pra cumprir, é tanta formalidade babaca burocratizando nossas vidas, fazendo-as se limitarem a existências. Sobrevivências. E eu pergunto: por quê? Pra quê?
Eu admito que, ainda que eu partilhasse da opinião de que mesmo com todos esses "tantos" vivemos bem, ou, mesmo se esses "tantos" não existissem e a vida fosse só o que realmente importa, continuaria sem conseguir atribuir uma função ou utilidade pra ela. Mas cá entre nós, tudo onde se encontra beleza é mais bonito (parece óbvio, mas não é.) e, nesse segundo caso, talvez eu ficasse até feliz por não ver sentido - nunca gostei de sentido. Sou amante dos sentimentos. Mas isso é outra história e vou lhes poupar das minhas divagações - Ela viraria pó, mas teria sido bonita antes. E talvez isso fosse suficiente.
O que perturba meus pensamentos é ver e ratificar todos os dias que vivemos menos mesmo com o aumento da expectativa de vida em todo o mundo. Triste, mas verdade. Sabe, não vou repetir aqui o que não importa nem dizer o que realmente importa, ou pelo menos deveria importar, até porque isso tudo, como tudo, é relativo. Pode ser que você esteja discordando de mim ou que não esteja acompanhando o raciocínio (e não, isso não seria necessariamente culpa sua. Como diria Quintana, "quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.") ou que você esteja achando que eu sou uma idiota perdendo tempo de vida escrevendo essas linhas tortas e, quem sabe, vazias. Talvez você esteja certo.
Talvez não. Não sei, não sei. De um jeito ou de outro, tudo vai virar pó e nada importa. As suas lembranças, as suas escolhas, as suas convicções, as suas idéias, as suas lutas, os seus erros, os seus acertos, os seus sonhos, as suas decepções.
Pó pó pó pó pó pó pó pó pó.
Não importa quão grandes e/ou fortes sejam.
Que nem você: seu corpo e alma (que é tudo isso que falei antes e mais, muito mais). Tudo pó. Tudo nasce pra morrer.

Tá aí, talvez esse seja o objetivo e talvez ele não seja tão triste como eu vejo. Talvez o pó seja a magia da vida. A criação e o fim dela. Talvez por não importar, é que tudo importe e, portanto, valha a pena.
E se ele que é ele disse uma vez que "se tudo é pó,/Que seja pó de amor integral.", quem sou eu pra dizer o contrário?


¹ Frase do filme Fight Club (1999). Se não conhece, faça o favor de conhecer.



Nota da autora: Sei que parece que tratei de duas coisas diferentes, que tentei fazer uma crítica e não finalizei, que mudei de assunto. Tá, tá, tá. No final é tudo pó e você não conseguiria separar de qualquer maneira.


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