Capítulo Primeiro
Abri as portas do meu armário e fui de imediato aos itens que julguei, sem ter ao menos um critério de seleção já que não fazia idéia do que me aguardava e, por conseguinte, do que talvez precisasse um dia, mais necessários. Coloquei-os dentro da maior mochila que encontrei - que por sinal nem minha era – e de forma mais comum não poderia ter me vestido: calças jeans, casaco, tênis e boné vermelho. Saí depressa; não por ser uma fuga (não corria o risco de ser pega no flagra porque meus pais só voltariam de viagem no domingo à noite), mas porque não queria fracassar - de novo, NÃO! - E eu sabia que se permanecesse mais tempo naquele quarto acabaria por fitar minhas coisinhas tão minhas e tão importantes, minhas roupas e móveis e as benditas fotografias coladas por todo o teto e paredes, que de maneira covarde trariam lembranças à tona e me fariam esquecer de meu propósito, pelo menos temporariamente.
Tranquei a porta da sala e depois disso, fiquei algum tempo parada com o molho de chaves na mão: era melhor livrar-se disso ou guardar? Num impulso, o escondi no xaxim que enfeitava o corredor, como sempre fiz quando não tinha hora pra voltar, e decidi que assim estava bem, afinal, já estava mais do que na hora de colocar em prática a minha mais velha nova filosofia de vida: ser guiada pelos impulsos, e sem medo! Não quis esperar pelo elevador já que não queria encontrar nenhum vizinho simpático justo naquela hora, e então fiz o que me restava e desci os nove andares, correndo. Dei um bom-dia casual ao porteiro e finalmente, deixei aquele prédio.
Andei.
Vaguei.
Peguei um ônibus ou dois por acaso, sem notar sequer os números no letreiro.
Andei.
Vaguei.
Quando me importei com o que me envolvia, perambulei.
Andei.
Vaguei.
Perambulei.
Troquei idéias baratas e outras não tão baratas assim com o que por ventura arrisquei conhecer. E não foram poucas pessoas. E não foram poucos lugares. E não foi pouco eu.
Andei.
Vaguei.
Perambulei.
Dancei.
Andei de bicicleta.
Deitei.
Fechei os olhos.
Senti o vento.
Abri os braços.
Tropecei.
Caí.
Levantei.
Fui correndo pra casa.
Sabia que não estava curada, mas estava: naquele momento.
E pra mim foi o suficiente desprender essa necessidade de atribuir nome, sentido, justificativa ao que eu só queria – e precisava! - sentir. Porque eu senti. E poder&ia sentir de novo e de novo e não seria o mesmo. Nada que se repete vale a pena.
Acho que vivi uma vida num dia. E acho que descobri que assim que deve ser.
E se não for? Um dia eu também descubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário