quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

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Havia austeridade nos olhos, especialmente nos dela, que relutava há mais tempo e menos nos dele, por não fazer questão ou se importar muito em tê-la. Fato é que ambos tentavam disfarçar que a tinham: precisavam afirmar para o outro (e para si mesmos) que ela não era mais necessária; os tempos eram outros.

Entre aquelas duas estantes, murmuravam e sorriam enquanto roubavam e devolviam os livros às prateleiras entupidas e liam suas contracapas e julgavam pelas capas… tudo com delicadeza, sem ferir o silêncio exigido. Mesmo porque, não precisavam fazer muito uso das palavras: tinham olhos. E se olhavam. Esse era o perigo.

Escolheram o mesmo título, ao mesmo tempo. Ela se riu - inocentemente dessa vez - e ele, aproveitando que sua mão estava em cima da dela (ou seria por ter sido instigado por tal condição?) deslizou seus dedos pelo braço esticado enquanto a envolvia com a outra e ela fechava os olhos - de novo os olhos! - e se rendia ao mais do mesmo, que sempre parecia mais.

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