terça-feira, 5 de novembro de 2013

85

cê parece maré
vem e vai
vai e vem
mas tá sempre aqui
mesmo quando tá lá

sem contar os olhos de ressaca...
de ressaca?
vá, de ressaca

sábado, 7 de setembro de 2013

84

Se a vida fosse poesia
eu não te questionaria
e você me entenderia entendendo ou não

Se a vida fosse poesia
eu persistiria, continuaria ou desistiria
e nada seria em vão

Se a vida fosse poesia
eu faria um poema sem métrica, sem rima, sem ritmo
e você não se importaria ou nem conta se daria

Se a vida fosse poesia
de nada adiantaria divagar como seria
E sem a sombra da desesperança, eu viveria.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

83

Eu estava com outro. Um desses que a gente fica por saber que ele vale a pena, mas sabendo também que valer a pena não é nem será suficiente. A conversa estava agradável e a lagoa irradiava uma brisa de felicidade tranqüila, própria dos finais felizes. Eu estava descontraída, rindo de algum comentário realmente engraçado quando ali, naquele lugar perdido, que não é seu nem meu, você passou. Passou, me viu e fingiu não ver. Passou. Vi que me viu e vi que fingiu não ver que vi. Passou e a cada passo daquela distração forçada eu diminuía um pouco. Algum tempo depois de ter me cansado de ser sincera e de te perseguir com o olhar das esperanças quase mortas, eu soube que você estava lá, na outra esquina da rua, estático senão fosse o cão que segurava pela coleira. Sorri o meu sorriso seu, que o era por mérito, mas seu abraço foi triste. O céu nos deu um lilás escuro transpassado pelo que pareciam ser pequenos raios que não se apagavam, lindo. E nesse dado instante pude lembrar o que havia esquecido: nunca estive com ninguém além de você.

domingo, 9 de dezembro de 2012

82

eu queria querer nada.
queria não me importar,
queria não dizer,
não esperar,
não me render.

eu queria tanta coisa que exige nada,
que não entendo como não consigo não tê-las.

domingo, 21 de outubro de 2012

81

Só eu acho que pensar é uma merda?
O discurso de que o homem é o único animal dentre todos os animais conhecidos com a magnífica capacidade de pensar e ter consciência de que pensa, todo mundo já conhece. O quanto podemos criar, recriar, transfomar e evoluir por conta dessa vantagem, é imaginável... Lindo isso. Lindo e triste.
Sério, não sei se eu sou uma pessoa problemática, com um cérebro problemático, mas pensar me faz mal. Pra cacete. Primeiro, na esfera íntima: vai pensar no teu futuro, pra ver a merda que dá. Pelo menos é isso que acontece quando pessoas inseguras pensam. Dependendo da pessoa, até pensar no seu presente - ou principalmente nele - dá merda. É uma angústia escrota.
Segundo, pense no todo. Pense na história do mundo. Pense nas pessoas mortas lutando por... por qualquer causa que não é justificativa pra fazer guerra (porque nada é!). Pense em quantas pessoas estão com fome. Morrem de fome. Em quantas crianças crescem sem oportunidades, sem perspectivas, vítimas de circunstâncias maiores que elas. Pense em quantas vezes os ideais ficam apenas no plano das ideias. O quanto o direito é falho, as pessoas abusam do poder, tiram proveito dos mais fracos. Mentem, iludem, são egoístas.
Vocês vão dizer que essas linhas são apelativas, mas a culpa não é minha. A realidade é apelativa: é só você não fechar os olhos pra ela, pra perceber.
Às vezes me pego pensando no mundo dos bichinhos ditos irracionais. É perfeito: eles fazem o que estão afim de fazer, na hora que estão afim de fazer, não são socialmente obrigados a seguir nenhum padrão de conduta ou beleza. Nem a estudar, para trabalhar, para sobreviver. No máximo, eles precisam matar quando têm fome e fugir pra não matar a fome de nenhum outro. E sabe qual é o melhor? Sem pensar nem teorizar sobre nada, o que os livra de uma porrada de sentimentos ruins, típicos de quem pensa: não há culpa, não há ressentimentos. Não dá nem pra ser hipócrita no mundo deles.
É, o que me entristece é pensar que, mesmo pensando, somos o que somos. Antes a gente não soubesse que pensa, que aí tudo de feio que a humanidade insiste em reproduzir seria justificado pela falta de raciocínio.
Pra porra com essa sapiência, sapiens sapiens!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

80



"Esta é sua vida e ela está acabando a cada minuto."¹ Eu não queria começar dessa maneira, mas como esse texto vai tomar um semblante bem mais assustador e como nenhuma das palavras acima conjugadas juntas e nesta ordem cria uma mentira, que assim seja.
Talvez esse seja o feitiço mais cruel da vida (da vida como ela mesma, substantivo, e da vida como uma mera generalização): cada dia a mais é um a menos. Quanto mais você prova, menos você pode experimentar. Quanto mais você planeja, menos tempo tem de realizar. É um ciclo vicioso, porém finito.
E são tantas as banalidades que o cotidiano prega como prioridades que ocupam nossas mãos, gastam nossas energias, cansam nossas mentes e fragilizam nossas almas. É tanta conta pra pagar, é tanta ficha pra preencher, é tanto horário pra cumprir, é tanta formalidade babaca burocratizando nossas vidas, fazendo-as se limitarem a existências. Sobrevivências. E eu pergunto: por quê? Pra quê?
Eu admito que, ainda que eu partilhasse da opinião de que mesmo com todos esses "tantos" vivemos bem, ou, mesmo se esses "tantos" não existissem e a vida fosse só o que realmente importa, continuaria sem conseguir atribuir uma função ou utilidade pra ela. Mas cá entre nós, tudo onde se encontra beleza é mais bonito (parece óbvio, mas não é.) e, nesse segundo caso, talvez eu ficasse até feliz por não ver sentido - nunca gostei de sentido. Sou amante dos sentimentos. Mas isso é outra história e vou lhes poupar das minhas divagações - Ela viraria pó, mas teria sido bonita antes. E talvez isso fosse suficiente.
O que perturba meus pensamentos é ver e ratificar todos os dias que vivemos menos mesmo com o aumento da expectativa de vida em todo o mundo. Triste, mas verdade. Sabe, não vou repetir aqui o que não importa nem dizer o que realmente importa, ou pelo menos deveria importar, até porque isso tudo, como tudo, é relativo. Pode ser que você esteja discordando de mim ou que não esteja acompanhando o raciocínio (e não, isso não seria necessariamente culpa sua. Como diria Quintana, "quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.") ou que você esteja achando que eu sou uma idiota perdendo tempo de vida escrevendo essas linhas tortas e, quem sabe, vazias. Talvez você esteja certo.
Talvez não. Não sei, não sei. De um jeito ou de outro, tudo vai virar pó e nada importa. As suas lembranças, as suas escolhas, as suas convicções, as suas idéias, as suas lutas, os seus erros, os seus acertos, os seus sonhos, as suas decepções.
Pó pó pó pó pó pó pó pó pó.
Não importa quão grandes e/ou fortes sejam.
Que nem você: seu corpo e alma (que é tudo isso que falei antes e mais, muito mais). Tudo pó. Tudo nasce pra morrer.

Tá aí, talvez esse seja o objetivo e talvez ele não seja tão triste como eu vejo. Talvez o pó seja a magia da vida. A criação e o fim dela. Talvez por não importar, é que tudo importe e, portanto, valha a pena.
E se ele que é ele disse uma vez que "se tudo é pó,/Que seja pó de amor integral.", quem sou eu pra dizer o contrário?


¹ Frase do filme Fight Club (1999). Se não conhece, faça o favor de conhecer.



Nota da autora: Sei que parece que tratei de duas coisas diferentes, que tentei fazer uma crítica e não finalizei, que mudei de assunto. Tá, tá, tá. No final é tudo pó e você não conseguiria separar de qualquer maneira.


domingo, 15 de julho de 2012

79

As palavras me faltam.
Mas eu não as culpo. Elas foram feitas parar servir a comunicação e não necessariamente para traduzir fisgadas, reflexos involuntários ou filetes de pensamentos carregados de expectativas, de ilusões. Se ainda fosse da minha vontade compartilhar tudo isso, poderia reclamar, com razão. Mas pra quê nomear o que está fadado ao meu - e apenas meu - infinito particular? Elas têm razão.


Talvez nem seja questão de acerto, mas sim de nobreza. De repente elas não se deixam apanhar pelo meu puçá nervoso por reconhecerem sua pequenez diante dos sentimentos. Talvez saibam que, se utilizadas, poderiam diminuir o tamanho ou simplesmente não alcançariam a importância das coisas ainda sem nome.
Seja como for, vejo como crueldade essa mania de me deixar impotente diante do papel em branco. Eu juro que me satisfaria se bem pouco, se qualquer fração do que eu sinto se desprendesse de mim e se tornasse visível por meio do ordenamento das letras. O medo me seria tirado e meu sono, restaurado.
Meias palavras me bastariam.